Pois, como escrevi e disse várias vezes, somos uma sociedade agitada, mas sem muita alegria.
Muita gritaria, pouca comunicação. Muita exibição de sensualidade, tantas vezes artificial e forçada, mas pouco amor.
Muito palavrório, pouca realização.
Muitas
receitas sobre como educar os filhos, por exemplo, e a meninada tantas
vezes sem compustura ( e nós?, e nós?), cheia de exigências, quando
deveria era reclamar por estudo melhor, mais rigoroso, mais exigente,
melhores professores, mais bem pagos e mais exigidos também. Mas
queremos tudo simples e simplificado, queremos logo um bom emprego, de
preferência de chefe, claro, quem quer ter de subir no emprego, quem
quer ter de subir na vida?
A
gente quer estar logo no topo, ganhando bem, e nada de supervisor
espiando por cima do ombro para ver se estamos trabalhando no computador
ou entrando no face, no twitter, na pornô.
A
gente não quer saber de nada sério, morte é coisa de velho, porém, como
dizia a Clarice, a Lispector, " um dia, tinha se passado vinte anos."
Um dia terão se passado quarenta anos, cinquenta, e a gente não vai nem saber que viveu,porque viveu, como continua vivendo.
"
Desperdício" é uma das palavras que mais detesto na nossa língua e na
nossa realidade. Desperdício de comida e dinheiro, de esforço, e de
vida.
Desperdício
dos afetos, quando enganamos ou traímos. Quando somos irresponsáveis
feito adolescentes eternos, e não acho graça nenhuma nisso. Atitudes de
criança e de adolescente são toleráveis ou até graciosas na idade
devida. Depois ficam chatas, depois ficam inconvenientes, ficam burras.
Quando
penso na morte, não é só como a sombra da separação, mas como esse
enigma que nos espia no fundo de um espelho onde, se sorrimos, nosso
reflexo pode não sorrir - e aí o que a gente faz? Aí a gente se
arrepende das besteiras, das bobagens, não daquelas naturais, normais -
porque não somos perfeitos, que os deuses nos livrem das pessoas
exemplares - mas da grande bobagem de ter vivido sem perceber, sem
curtir.
Não
a curtição da bebida, da droga, da promiscuidade, mas da coisa profunda
e gostosa dos bons afetos, da maravilhosa natureza. Dos trabalhos
humanos que nos fizeram chegar das cavernas dos trogloditas até a mais
apurada tecnologia que nos permite ver e ouvir pessoas amadas a milhares
de quilômetros de distância, conhecer culturas, entender gentes,
apreciar a arte, percorrer a natureza a mais remota, sem sair da mesa do
computador.
O
olhar da velha dama à espreita com seus olhos de gato, palitando os
dentes como se não tivesse pressa, pode nos levar a mudar um pouco o
mundo, sendo interessados, descentes, compassivos, leais. Isto é o que,
talvez, a ideia eventual do efêmero de tudo pode nos trazer, sem drama: a
consciência do nosso valor, da nossa capacidade, da nossa importância. "
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