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quinta-feira, 12 de abril de 2012

FALANDO SOBRE A MORTE - Por Lya Luft


          Pois, como escrevi e disse várias vezes, somos uma sociedade agitada, mas sem muita alegria.

         Muita gritaria, pouca comunicação. Muita exibição de sensualidade, tantas vezes artificial e forçada, mas pouco amor.
          Muito palavrório, pouca realização.

          Muitas receitas sobre como educar os filhos, por exemplo, e a meninada tantas vezes sem compustura ( e nós?, e nós?), cheia de exigências, quando deveria era reclamar por estudo melhor, mais rigoroso, mais exigente, melhores professores, mais bem pagos e mais exigidos também. Mas queremos tudo simples e simplificado, queremos logo um bom emprego, de preferência de chefe, claro, quem quer ter de subir no emprego, quem quer ter de subir na vida?

          A gente quer estar logo no topo, ganhando bem, e nada de supervisor espiando por cima do ombro para ver se estamos trabalhando no computador ou entrando no face, no twitter, na pornô.
          A gente não quer saber de nada sério, morte é coisa de velho, porém, como dizia a Clarice, a Lispector, " um dia, tinha se passado vinte anos."

         Um dia terão se passado quarenta anos, cinquenta, e a gente não vai nem saber que viveu,porque viveu, como continua vivendo.
         " Desperdício" é uma das palavras que mais detesto na nossa língua e na nossa realidade. Desperdício de comida e dinheiro, de esforço, e de vida.

          Desperdício dos afetos, quando enganamos ou traímos. Quando somos irresponsáveis feito adolescentes eternos, e não acho graça nenhuma nisso. Atitudes de criança e de adolescente são toleráveis ou até graciosas na idade devida. Depois ficam chatas, depois ficam inconvenientes, ficam burras.

          Quando penso na morte, não é só como a sombra da separação, mas como esse enigma que nos espia no fundo de um espelho onde, se sorrimos, nosso reflexo pode não sorrir - e aí o que a gente faz? Aí a gente se arrepende das besteiras, das bobagens, não daquelas naturais, normais - porque não somos perfeitos, que os deuses nos livrem das pessoas exemplares - mas da grande bobagem de ter vivido sem perceber, sem curtir.

          Não a curtição da bebida, da droga, da promiscuidade, mas da coisa profunda e gostosa dos bons afetos, da maravilhosa natureza. Dos trabalhos humanos que nos fizeram chegar das cavernas dos trogloditas até a mais apurada tecnologia que nos permite ver e ouvir pessoas amadas a milhares de quilômetros de distância, conhecer culturas, entender gentes, apreciar a arte, percorrer a natureza a mais remota, sem sair da mesa do computador.

          O olhar da velha dama à espreita com seus olhos de gato, palitando os dentes como se não tivesse pressa, pode nos levar a mudar um pouco o mundo, sendo interessados, descentes, compassivos, leais. Isto é o que, talvez, a ideia eventual do efêmero de tudo pode nos trazer, sem drama: a consciência do nosso valor, da nossa capacidade, da nossa importância. "

segunda-feira, 9 de abril de 2012

OPOSIÇÃO É NECESSARIA E NATURAL

          O mundo é formado por forças opostas, que são opostas, mas que são necessárias para a existência da vida, para a existência de ambas as forças, por exemplo: o frio é oposto ao calor, mas um depende do outro para existir, sem o frio não saberíamos o que seria o calor. Este exemplo você pode estender para os diversos segmentos da sociedade. Só há crescimento humano quando há oposição de idéias, discussões, críticas, quem tem receio ou medo disto, na verdade é um ser com medo de si, pois um bom adversário é um adversário competente, e é em um embate que surge o forte e desaparece o fraco, e se ambos forem fortes, um vai tirar do outro o melhor que o outro possui, isto acontece quando este embate é feito por grandes homens, pois o trapaceiro é um fraco, sem capacidade, e o mundo precisa de pessoas fortes. Esta é uma das razões para o mundo não está bem, pois muitos trapaceiros, corruptos, conseguem chegar ao poder, a ter status, e ao chegarem ao poder a ordem natural se inverte, ou seja, um forte não está no poder, mas um fraco, consequentemente, teremos países, estados, cidades, mal governados, ou governados de forma errada, não se resolvendo assim os verdadeiros problemas.
         Certamente você já ouviu a frase: "O mal se destrói por si", a questão que eu coloco a respeito desta frase, não é nada relacionado ao bem e o mal, mas o fato de algumas pessoas que ocupam cargos importantes, seja no meio político, artístico, esportista, empresarial, tentar exterminar o opositor, tentativa esta que na minha opinião é em vão, além de ser um sinal de fraqueza, pois forças contrárias sempre irão existir, e se você extingui o seu opositor, ele surgirá do seu lado.
          Os grandes homens adoram o seu opositor, pois é ele quem ajuda você a não cair, a estar sempre atento, é quem te faz crescer, pois ele diferentemente dos "babões" te apontará mesmo que de forma raivosa o teu defeito, enquanto que o "babão" esconde eles.
            Oposição é necessária e natural, quem não sabe viver com isto, vive em um mundo anti natural e irreal.

quarta-feira, 4 de abril de 2012

VOZ NO DESERTO - Por Lya Luft

          Nunca fui muito ligada em futebol, mas sempre me agradou o entusiasmo masculino por ele em minha casa, desde quando meu pai ouvia jogos e torcia nas tardes de domingo, no rádio (não, não havia televisão na minha infância, para espanto de um dos meus netos quando bem pequeno, provocando-lhe a deliciosa pergunta: "Mas não tinha dinossauro, né, vovó?"). Com o tempo e o convívio, acabei apreciando, mesmo sem entender, aquele jogo com termos e regras enigmáticos.
          Essa introdução é para dizer que me causaram admiração e tristeza os comentários do agora deputado Romário sobre o Congresso, a copa e outros temas. Porque ele político estreante, teve a coragem, e porque tudo me pareceu tão evidente, e tão corajoso neste nosso teatro de invenções e negação da realidade. Animou-me um deputado comentar que ali no Parlamento, poucos de verdade trabalham; que muito do que se anuncia sobre a copa é bastante improvável; e que há perigo de também nela acontecerem propina e desvio de dinheiro, o circo habitual. Entristeceu-me que tão poucas pessoas reagissem, e que coubesse a ele, jogador de futebol, e deputado novato, botar em palavras, publicamente, o que muitos de nós percebemos, com maior ou menos entendimento e lucidez, mas não fazemos nada. Por que não formamos um grande coro? Porque temos receio de críticas ou preferimos desviar o rosto e os olhos e fechar a boca? As recentíssimas denúncias sobre propina em entidades públicas ligadas a hospitais e licitações são de estarrecer. A naturalidade com que, entre nós, se cometem tais atos ilegais é espantosa. Ou eu estou fora do esquadro, faço parte do pequeno bando de anônimo que ainda se assombra?
          Sei que os governantes que querem o bem deste povo, deste país, dos estados, dos municípios, podem ainda nos salvar. Sem a pretensão de ensinarmos ao mundo, de sermos melhores que americanos ou europeus, mas tentando ser o melhor que nós aqui podemos ser. E certamente é bem mais do que estamos sendo, com péssimos transportes, educação insuficiente e confusa, idéias mirabolantes, saúde um susto, primeiros consumidores a ficar inadimplentes porque o estímulo ao consumo pode agradar de um lado e prejudicar de outro.
          Não digam que sou pessimista: seria simples demais. Nem digam que sou contra governos e partidos, seria preconceituoso. Na verdade não tenho partido, acho mesmo que existem raros partidos no velho sentido da palavra, siglas permanentes, seguidores fiéis, ideologia coerente, sensata e firme. Eu apenas observo. Leio. Escuto. Assisto a noticiosos. Interpreto voz, entonação, semblante dos que por nós falam: não sou nem otimista nem negativa, quero apenas que tudo finalmente tome um rumo, firme, coerente, realista e eficiente. Sem tanta gente ainda morrendo em hospitais ou emburrecendo nas escolas por falta de bons professores e ótimos projetos. Projetos realizáveis, não impossíveis, não tentativas aleatórias com nossas crianças, jovens, velhos, operários, intelectuais, estudantes, garis, domésticas, agricultores, médicos, engenheiros, trabalhadores de qualquer ramo.
          Que agente não fique na utopia de que vamos ensinar os países mais adiantados, porque, repito, ainda não conseguinos encaminhar nossos próprios projetos, resolver alguns dos mais graves problemas deste povo, que precisa tanto e muitas vezes nem sabem disso. Imagino a dificuldade dos bons governantes para mudar os rumos do que nos deixou fragilizados. E acho que nós, os cidadãos comuns, poderemos ajudar, se não aceitarmos fatos ruins como coisa natural, não acreditarmos em promessas nem em exigências absurdas, se cumprirmos com excelência nosso dever de cada dia, que inclui trabalho, cuidado com a família, honradez e patriotismo - cada um dentro de suas possibilidades. O que realmente estou querendo dizer é que, num deserto de idéias lúcidas e opiniões honradas, a gente precisa tentar, com amor e coragem, abrir caminhos, portas, janelas, e ajudar a mudar as coisas que podem ser mudadas.

texto de Lya Luft publicado na revista veja do mês de março de 2012

segunda-feira, 2 de abril de 2012

SOMOS UM PAÍS LAICO

          Esta postagem que está publicada abaixo, diferentemente das outras publicadas neste blog, não é uma postagem escrita por mim, mas um texto que ví escrito no "PAVABLOG", um texto que fala sobre uma coisa que particularmente acho inadmissível, que é a intolerância religiosa. Pessoas que professam determinadas religiões, querem a todo custo impor a sua crença, nem que para isto tenha que se humilhar, ameaçar e até praticar atos de violência. Fé não é algo concreto, é algo abstrato, sendo assim é uma experiência individual e intransferível, e para se ter fé não necessariamente precisa estar em ambientes religiosos, ou seja, fé é uma coisa, religião é outra. O fato é que o Brasil é uma país laico, não possui religião oficial, e a nossa LEI MAIOR, a constituição garante liberdade de culto e de crença a todas os cidadãos brasileiros, sendo assim é ILEGAL, escolas rezarem, utilizarem imagens, símbolos ou palavras religiosas, principalmente escolas públicas, enfim, em outra oportunidade descorrerei mais sobre este tema, leiam o texto e reflitam.

Professora evangélica prega em aula e aluno sofre bullying na escola 

Texto de Rafael Ribeiro, do Diário do Grande ABC

          Adolescente de 15 anos passou a ser vítima de bullying e intolerância religiosa como resultado de pregação evangélica realizada pela professora de História Roseli Tadeu Tavares de Santana. Aluno do 2º ano do Ensino Médio na Escola Estadual Antonio Caputo, no Riacho Grande, em São Bernardo, o garoto começou a ter falta de apetite, problemas na fala e tiques nervosos.

          Ele passou a ser alvo de colegas de classe porque é praticante de candomblé e não queria participar das pregações da professora, que faz um ritual antes de começar cada aula: tira uma Bíblia e faz 20 minutos de pregação evangélica aos alunos. O adolescente, que no ano passado começou a ter aulas com ela, ficava constrangido.      
          Seu pai, o aposentado Sebastião da Silveira, 64 anos, é sacerdote de cultos afros. Neste ano, por não concordar com a pregação, decidiu não imitar os colegas. Eles perceberam e sua vida mudou.
           Desde janeiro, ele sofre ataques. Primeiro, uma bola de papel lhe atingiu as costas. Depois, ofensas graves aos pais, que resolveram agir. “Ficamos abalados”, disse Silveira. “A própria escola não deu garantias de que meu filho terá segurança.”
          O garoto estuda na unidade desde a 5ª série. Poucos sabiam de sua crença. E quem descobria se afastava.Da professora, ouviu que pregação religiosa fazia parte do seu método. Roseli não quis comentar sobre o caso.
          A Secretaria Estadual da Educação promete que a Diretoria de Ensino de São Bernardo irá apurar a história e reconhece que pregar religião é proibido pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.
           Na escola, os alunos reclamam da prática. “Não aprendi nada com ela. Só que teria de ter a mesma religião que ela”, disse um menino de 16 anos.
          A presidente da Afecab (Associação Federativa da Cultura e Cultos Afro-Brasileiros), Maria Campi, anunciou que dará amplo suporte à família de Magno pelo que o garoto vem sofrendo. “Nossas crianças não têm direito a ter uma identidade. São discriminadas quando usam as vestimentas. Falta estudar mais as culturas africanas”, completou.
          Um registro de ocorrência foi feito no 4º DP (Riacho Grande), e a Comissão de Liberdade Religiosa da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) e o Ministério Público foram acionados. “O Estado brasileiro é laico e não pode promover uma religião específica através de seus agentes. É preciso compreender a importância do respeito à escolha do próximo”, disse a presidente da comissão, Damaris Moura.
          “Escola não é lugar para se fazer pregação”, definiu Carlos Brandão, doutor em Educação pela Unesp (Universidade Estadual Paulista). “O superior que está permitindo isso não está só indo contra a lei, mas sim prejudicando a moral dos alunos.”
          Até mesmo pais evangélicos de alunos do local criticam a postura. “Nunca foi falado em casa que ela fazia isso. Senão eu reclamaria, é errado”, disse a doméstica Edemilda Silva, 46 anos, moradora do Capelinha. Seu filho, 13, está na 8ª série do Ensino Fundamental e confirmou a atitude da professora. “Se quiser ouvir a palavra, vou na igreja. “